quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Eu deixo.

Não fica assim tão calada enquanto a gente volta pra casa. Vem cá, senta no meu colo, beija minha boca, abre o meu zíper. Esse espaço entre mim e o volante foi feito só pra você. Aproveita. Me conta uma história, me fala daquele livro que você tá lendo, deixa eu lhe apresentar aos meus pais. Tira a minha concentração e o meu juízo ao passear de sainha pelo corredor ou só de calcinha pelo meu quarto (aquela preta com um babadinho, que eu adoro). Espalha esse seu batom vermelho pelo meu rosto, pelo meu corpo e vai descendo... Morde meus lábios, meu queixo, bem de levinho, como só você faz, e depois se afasta um pouco quando eu tentar lhe beijar, só pra me provocar e deixar com ainda mais vontade. Vai, me diz como eu devo decidir esse caso, você faz isso melhor que eu. Me conta o que você achou do cd novo do Andrew. Que é que você acha de irmos à praia esse final de semana? Vamos correr sábado pela manhã? Deixa eu lhe fazer uma massagem, e um filho. Deixa eu lhe dar um novo lar e muito, muito prazer. Vem cá, mulher, cala a minha boca, me deixa sem ar. Faz da minha sua outra família. Faz de mim o seu lugar. Não dorme agora. Sente minha barba roçando sua barriga, suas coxas... Isso, geme assim baixinho, no meu ouvido. Ainda é cedo e tem criança no quarto ao lado. Deixa eu lhe levar pra ver o sol nascer na Tailândia. Você é doida por lá, né? Também é doida por mim? Me faça parecer um bobo ao lhe olhar brincando com seus sobrinhos, pedindo a Deus pra você ser a mãe dos meus filhos. Me faça feliz ao me permitir lhe fazer feliz. Vai, mulher, não seja teimosa, me deixa lhe fazer feliz.

domingo, 11 de agosto de 2013

Agridoce

Ainda há muito para lhe dizer, mas meu tempo é curto e está acabando – assim como a minha coragem. Acabei de tomar uma xícara de café e, você sabe, café me bota comovida como diacho. Então, eu quero aproveitar essa sensibilidade (e o pouco tempo que me sobra).

Você foi o empurrão final de que eu precisava. O sopro de coragem que me fez encarar com menos medo – e até alguma esperança – a novidade que me aguardava.

No início, nossas semelhanças se assombravam – e chegavam mesmo a nos constranger, sabe lá Deus o porquê. Hoje, eu vejo que não é que sejamos parecidos, apenas temos gostos e estilos de vida quase idênticos, o que facilita bastante a harmonia. Mas ainda acho engraçado quando dizem que você é minha versão masculina e vice-versa.

Me parece, na verdade, que o ponto em que mais nos associamos é o humor. Simples, acessível, bobo como só nós sabemos ser. Por isso que o riso é sempre tão largo e farto quando estamos juntos.

Houve uns dias em que tudo pareceu estar errado, em que eu me dispersei mais do que o comum. Aí eu parava, tomava uma xícara de café e, ainda mais comovida, esperava você chegar. E era só você abrir a porta pro sol e o mar invadirem o ambiente. Meu peito sossegava. Sua presença era quase um afago. Aliás, antes mesmo disso, era ouvir sua voz no corredor pro mundo voltar à sua orbita normal. Foi assim todo dia.

E eu ficava cheia de orgulho ao perceber como um contava com o outro. Não só quando a brisa era leve, mas principalmente quando havia ventania. Ser seu suporte e lhe ter por cais nesses últimos meses foi mais uma fonte de alívio.

Nesse tempo, eu pude conhecer você como jamais teria suposto quando o vi pela primeira vez, há quatro ou cinco anos, naquela foto. Hoje, eu sei dos seus amigos, da sua família, dos seus planos, das suas histórias, dos seus gostos, dos seus jeitos. E, o que mais me impressiona, lhe deixo com a sensação de que ainda há muito a saber.

Não houve um só dia em que eu me sentisse entediada com você – o que é uma novidade pra mim, que me canso tão rápido. Mas eu confesso: experimentei certa confusão. Coisa que não sei explicar ainda. Ou talvez simplesmente não queira.

Meu tempo está acabando. Quem sabe, daqui a cinco anos... Não importa. E eu já lhe disse: você será sempre meu xodozinho.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Não elegemos a pessoa por quem nos apaixonamos

"Feliz ou infelizmente, para homo ou heterossexuais, não há livre arbítrio nas coisas do coração. Não elegemos a pessoa por quem nos apaixonamos. Apenas descobrimos, com as pernas bambas, as mãos suadas, a boca seca, o coração acelerado e uma flecha no peito, dizendo que é aquela ou aquele ali que queremos debaixo dos nossos lençóis."

— Antonio Prata

O salto

A gente não tem como saber se vai dar certo. Talvez, lá adiante, haja uma mesa num restaurante, onde você mexerá o suco com o canudo, enquanto eu quebro uns palitos sobre o prato — pequenas atividades às quais nos dedicaremos com inútil afinco, adiando o momento de dizer o que deve ser dito. Talvez, lá adiante: mas entre o silêncio que pode estar nos esperando então e o presente — você acabou de sair da minha casa, seu cheiro ainda surge vez ou outra pelo quarto –, quem sabe não seremos felizes? Entre a concretude do beijo de cinco minutos atrás e a premonição do canudo girando no copo pode caber uma vida inteira. Ou duas.

Passos improvisados de tango e risadas, no corredor do meu apartamento. Uma festa cheia de amigos queridos, celebrando alguma coisa que não saberemos direito o que é, mas que deve ser celebrada. Abraços, borrachudos, a primeira visão de seu necessáire (para que tanto creme, meu Deus?!), respirações ofegantes, camarões, cafunés, banhos de mar – você me agarrando com as pernas e tapando o nariz, enquanto subimos e descemos com as ondas — mãos dadas no cinema, uma poltrona verde e gorda comprada num antiquário, um tatu bola na grama de um sítio, algumas cidades domesticadas sob nossos pés, postais pregados com tachinhas no mural da cozinha e garrafas vazias num canto da área de serviço. Então, numa manhã, enquanto leio o jornal, te verei escovando os dentes e andando pela casa, dessa maneira aplicada e displicente que você tem de escovar os dentes e andar ao mesmo tempo e saberei, com a grandiosa certeza que surge das pequenas descobertas, que sou feliz.

Talvez, céus nublados e pancadas esparsas nos esperem mais adiante. Silêncios onde deveria haver palavras, palavras onde poderia haver carinho, batidas de frente, gritos até. Depois faremos as pazes. Ou não?

Tudo que sabemos agora é que eu te quero, você me quer e temos todo o tempo e o espaço diante de nossos narizes para fazer disso o melhor que pudermos. Se tivermos cuidado e sorte – sobretudo, talvez, sorte — quem sabe, dê certo? Não é fácil. Tampouco impossível. E se existe essa centelha quase palpável, essa esperança intensa que chamamos de amor, então não há nada mais sensato a fazer do que soltarmos as mãos dos trapézios, perdermos a frágil segurança de nossas solidões e nos enlaçarmos em pleno ar. Talvez nos esborrachemos. Talvez saiamos voando. Não temos como saber se vai dar certo — o verdadeiro encontro só se dá ao tirarmos os pés do chão —, mas a vida não tem nenhum sentido se não for para dar o salto.


— Antonio Prata