sábado, 14 de março de 2009

De quando você foi embora

... era um vazio tão grande que eu andava pela casa e as coisas pareciam fora do contexto. Qual a função daquela cadeira ali se você não vai sentar? Qual o sentido em eu comprar esses biscoitos se você não vai comê-los? Eu nem gosto deles! Por que, quando você foi embora, não levou junto as suas coisas? Ontem mesmo, eu encontrei aquele livro que o Dudu lhe deu há dois anos e você achava que tinha perdido. É sempre assim agora. Eu abro o armário e tem lá uma camisa sua (aquela verde, que eu lhe trouxe de Paris); abro uma gaveta e encontro um cd seu; vou à cozinha e tropeço no seu sapato. Eu já não sei mais o que fazer. Essa casa parece mais sua que minha; há você em todos os lugares, seu cheiro em todos os lençois, sua saliva em todo o meu corpo. Mas você foi embora. Ponto. E eu estou aqui agora, sozinha, atormentada pelas suas coisas. Onde você está, meu querido? Está frio aí? Aqui, desde que você foi embora, tudo é inverno. Não aquele inverno bonito de quando chovia e a gente se trancava no quarto e assistia filme agarradinho. Não. É aquele inverno de quando a gente quis ir à praia, no verão passado, e choveu. É o inverno do impedimento. E, no meu caso, por mais contraditório que pareça, não há chuva, nem uma gotinha sequer. O que não diminue em nada a densidade das minhas nuvens e dos meus dias: suas coisas ainda estão aqui, feito sombras que me acompanham por todos os lugares, dia e noite, noite e dia. Mas você não está, meu amor. Não está.